Um dos giros narrativos mais brilhantes da história de Assassin's Creed ocorre no início de Assassin's Creed 3, quando os jogadores percebem que estavam inadvertidamente controlando o líder templário Haytham Kenway. Através de uma maestria narrativa sutil, a Ubisoft revela lentamente a verdadeira lealdade de Haytham ao fazê-lo proferir o credo templário: "Que o Pai do Entendimento nos guie." Essa revelação subverte completamente as expectativas dos jogadores estabelecidas após horas de uma jogada aparentemente heróica.
O Ápice da Narrativa de Assassin's Creed
Esse engano magistral representa o potencial narrativo da franquia plenamente realizado. Enquanto o Assassin's Creed original introduziu mecânicas de assassinato cativantes, seus personagens careciam de profundidade. Assassin's Creed 2 melhorou a caracterização do protagonista com Ezio Auditore, mas ainda apresentava vilões unidimensionais. Somente Assassin's Creed 3 dedicou desenvolvimento igual tanto ao caçador quanto à caça, criando antagonistas templários moralmente complexos que desafiavam as suposições dos jogadores.
A Crise de Identidade da Série Moderna
Embora os jogos da era RPG ostentem uma escala impressionante, muitos fãs argumentam que a franquia perdeu seu brilho narrativo. Críticos citam vários fatores:
- Elementos mitológicos cada vez mais fantásticos
- Inclusões controversas de figuras históricas
- Opções de romance que diluem a identidade dos personagens
No entanto, acredito que o problema central seja mais profundo — a erosão gradual de narrativas densas e centradas em personagens em favor de um projeto de mundo aberto inchado.
Quantidade em Detrimento da Qualidade
A mudança da série para mecânicas RPG alterou fundamentalmente sua abordagem narrativa:
- Árvores de diálogo criam uma caracterização inconsistente do protagonista
- Mapas expansivos priorizam conteúdo vazio em vez de interações significativas
- Narrativas ramificadas impedem o foco dramático dos títulos anteriores
Enquanto Haytham em AC3 deixou palavras finais inesquecíveis ("Eu deveria tê-lo matado há muito tempo"), os protagonistas modernos muitas vezes parecem avatares vazios em vez de personagens plenamente realizados.
A Arte Perdida da Complexidade Moral
Os jogos anteriores se destacaram em desfocar as linhas morais do conflito Assassinos x Templários:
- Haytham argumenta de forma convincente que a América de Washington manteria a opressão
- Cada morte templária revela verdades perturbadoras sobre o colonialismo
- A revelação sobre a queima da vila de Connor subverte narrativas históricas
Essa narrativa cheia de nuances criou uma ambiguidade genuína que está ausente na simplicidade atual de "Assassinos bons/Templários ruins".
Uma Franquia Dividida
"A Família de Ezio" perdura como o tema da série porque representa a priorização da narrativa emocional. Embora as conquistas tecnológicas modernas impressionem, muitos anseiam por:
- Foco narrativo mais concentrado
- Desenvolvimento centrado nos personagens
- Antagonistas moralmente complexos
Se a Ubisoft conseguirá conciliar as expectativas do público com as tendências dos jogos modernos ainda é incerto. Mas AC3 prova que narrativas centradas em personagens criam os momentos mais memoráveis da série.